A construção de uma Economia de Bem-Estar
A construção de uma Economia de Bem-Estar requer a reformulação de instituições e das leis para promover um novo impulso nas actividades, para que apoiem o bem-estar das pessoas e do planeta. Pretendemos catalisar ideias e soluções com pessoas suficientemente informadas para influenciarem os governos levando-os a agirem de modo a resolver este desequilíbrio. Fazemos isso criando espaços para reunir e conectar stakeholders de diferentes áreas de trabalho e geográficas para, em conjunto, construir um novo modelo de desenvolvimento que permitirá equilibrar o sistema.
A próxima década será um período decisivo na transição para a Economia do Bem-Estar, para uma sociedade que se centra no bem-estar humano e ambiental. Na reunião do Homem com a sua natureza.
Definir objetivos mensuráveis para a sociedade, empresas e países é uma parte importante desse desenvolvimento. Porquê? Se as métricas exclusivamente financeiras continuarem a definir o sucesso dos governos e das empresas, a optimização das métricas financeiras será apenas e só o foco das políticas públicas. Um passo crucial para uma economia de bem-estar é garantir que sabemos medi-la e que as suas métricas têm impacto no desenvolvimento humano.
Felizmente, não há necessidade de começar do zero. Nos últimos 50 anos, muitos académicos, institutos científicos influentes, ONG's e cidadãos construtivos propuseram alternativas ao PIB e pensaram em como estas mudanças poderiam orientar as políticas governamentais ou mudar narrativas em torno do sucesso económico.
Economia de Bem-estar
O objectivo final das métricas orientadas para o bem-estar é substituir o PIB como o "indicador-chave do desempenho" por novas métricas que medem o desempenho em termos de contribuição para o bem-estar, sustentabilidade e equidade. Estas métricas alternativas orientariam os governos, as empresas, os cidadãos e as organizações a "gerirem" as respectivas actividades de forma diferente.
Ou seja, a implementação de um novo tipo de políticas, substituindo políticas que se focam estreitamente no crescimento económico. Estas métricas alternativas também contribuirão para mudar as narrativas sociais dominantes do "crescimento económico é bom", para narrativas que reforçam os objectivos do bem-estar económico.
Apesar de 50 anos de desenvolvimento de métricas para além do PIB e de centenas de iniciativas, o PIB continua a ser o indicador mais influente na sociedade e nenhuma das alternativas se aproxima da sua influência e condução da política económica global. Há três domínios em que o PIB ainda é superior. Cada uma destas áreas deve ser abordada pela comunidade além-PIB.
Harmonização
O PIB rege-se por um quadro contabilístico globalmente harmonizado, o Sistema de Contas, que é uma co-produção de institutos internacionais e um grupo globalmente organizado de institutos estatísticos nacionais que fornecem um dicionário de terminologia usado por macroeconomistas em todo o mundo. É um símbolo de cooperação global.
No caso das medidas para além do PIB, não existe uma norma global. Pelo contrário, existem centenas de diferentes sistemas de medição, cada um usando uma terminologia distinta. Como resultado, a definição de conceitos fundamentais desta comunidade — como bem-estar, felicidade, desenvolvimento sustentável, etc. — não são definidos globalmente e há confusão sobre o seu significado. Precisamos de criar um quadro contabilístico global e harmonizado que defina os termos relevantes da Economia do Bem-Estar e forneça indicadores globalmente harmonizados.
Ferramentas Políticas
O maior sucesso dos economistas foi provavelmente mudar a narrativa pública na sua direcção, incutindo na sociedade pós-Segunda Guerra Mundial a ideia de que o crescimento é bom e que o crescimento do PIB é o objectivo-chave dos governos. Termos económicos como "crescimento económico", "consumo", "consumidores" e "produtividade" são hoje comuns e frequentemente utilizados nos nossos meios de comunicação social e conversas diárias. Como resultado, a "economia" é vista como um fenómeno objectivo pelo público em geral, enquanto o "bem-estar" e a "sustentabilidade" são muitas vezes rotulados como "vagos".
Dada a diversidade das propostas e terminologias para além do PIB, isso não surpreende; isto dificulta a capacidade de moldar a narrativa pública. Os indicadores além do PIB devem contribuir para a mudança da narrativa social para a Economia do Bem-Estar, longe do crescimento económico. Para cada uma destas três áreas: Harmonização, Política e Narrativas Sociais. Eis o estado actual das discussões sobre o PIB e uma visão geral de algumas iniciativas para além do PIB.
Por isso, a harmonização deve ser uma das principais prioridades da comunidade além-PIB. Embora a actual diversidade nas iniciativas para além do PIB reflita a energia, a inovação e a paixão das pessoas que impulsionam estas iniciativas, é prejudicial para o objectivo superior de substituição do PIB. Os governos nacionais e os institutos internacionais (ONU, OCDE, Banco Mundial e FMI) deverão iniciar o processo de harmonização das medidas além-PIB.
Como é que isto pode funcionar? A harmonização começa por compreender como as diferentes abordagens são semelhantes e como são diferentes. Embora existam centenas de medidas para além do PIB, podem ser divididas em quatro categorias metodológicas diferentes.
Algumas iniciativas propõem um único índice para substituir o PIB. A ideia é captar, num só número, todas as dimensões relacionadas com o bem-estar humano e a sustentabilidade. Do ponto de vista da comunicação, é um claro benefício ter um único índice. No entanto, os indicadores sublinham que o bem-estar e a sustentabilidade são fenómenos multidimensionais que abrangem a saúde, a educação, as relações sociais, a economia, as alterações climáticas e a biodiversidade, todos os fenómenos que não podem ser capturados numa unidade comum.